quarta-feira, março 2

Somos pintura de Deus

Alunos de literatura/7ª série/ Escola Parque de Sergipe

Uma "re-postagem" como prometido à amiga Professora Carla Fernanda
"Logo quando vi seu blog culto e simpático e você preocupada com seus alunos e sua escola, tanto que seu blog leva o nome da escola (acho isso de uma carinho enorme), e mais, todas essas cores, me lembraram a "bagunça" que a gente fazia e a minha 'fessora Zelina sempre sorrindo"
(Carlos Soares - Menino Beija-Flor)

Um Romeu e Julieta diferente

Dona Zelina era uma alegre professora de educação artística na 6ª série. Gostava de dizer. “Vocês cansam minha beleza”. Eu gostava muito daquelas aulas coloridas, só que nunca soube desenhar direito. Meus desenhos eram basicamente, uma casinha com chaminé, um riacho, uma nuvenzinha rindo, um sol surgindo por trás dos montes e uma vaquinha pastando. Ela falava. “Você está sendo repetitivo. Crie outro tipo de desenho”. Um dia, de brincadeira, fiz o mesmo desenho, porém com duas vaquinhas. Ela disse. “Não estou vendo nada de diferente”. Retruquei. “Tem sim. Agora tem duas vaquinhas. A fazenda está crescendo”. “Pelo bom humor vou te dar um 7”.
Na semana das crianças, foi organizada uma gincana entre as salas, e teria apresentação de palhaços, teatrinhos, dança, coisas regionais, etc. Nem éramos tão crianças, tínhamos entre treze e dezesseis anos. Eu, quatorze. Tinha um rapaz que deve ter virado artista, pois era muito bom em teatro de bonecos, marionetes, dessas que se fica escondido manipulando e fazendo vozes. Nossa sala seria a última na sexta-feira e depois o encerramento. O rapaz escolheu ROMEU E JULIETA, mas teve um pequeno acidente e não poderia representar. Dona Zelina, endoidou. “E agora, o que faço? Vai ser feio cancelar. Colocar o quê no lugar?”. Vocês não conhecem alguém que saiba fazer? Cenário tão prontinho, vai ser uma pena não ter”. E começou a andar pela sala, mãos nos quadris. Senti certa tristeza em seu olhar e talvez isso me tenha feito dizer uma loucura. “Eu sei quem faz”. Levantou a cabeça. “Quem? Você me apresenta?”. “Eu”. Surpresa, perguntou. “Sabe mesmo, Carlos? Espero que não esteja zombando de mim”. Sei sim, ‘fessora. É só decorar o texto, mudar as vozes. Só preciso treinar a manipulação”. Rita, disse. “Ele deve saber, ‘fessora. Ele não diz que é poeta?”. Dona Zelina veio se aproximando devagar, me olhando. “É verdade. Tem a ver. Tem certeza mesmo que pode salvar a pele da professora mais linda da escola?”. “Deixe comigo, ‘fessora”, piscando para ela. A senhora é linda mesmo. De boniteza nessa escola, só perde pra mim”. Riso geral, com direito a algumas vaias. Apertou minha bochecha. "Conto com você". Passei dois dias decorando, manipulando na frente do espelho, treinando vozes. Não vou negar que fiquei preocupado. Era coisa nova para mim, nunca tinha feito e a escola inteira estaria lá. Felizmente deu tudo certo. Meu teatrinho ficou legal. Só que mudei o final. Pensei. “Dia das crianças terminar em drama? As pessoas vão estar ali para sorrir e não para chorar”. No meu texto, fiz o amor dos dois reconciliando as famílias. Ela veio me parabenizar. “Plagiou Shakespeare legal, hein? Atrevido você”. Balancei o dedo. “Não. É um alternativa de que as coisas podem terminar de outro jeito. Quem sou eu para plagiar um gênio, mas não gosto do final de ROMEU E JULIETA. Prefiro um “ viveram felizes para sempre”. Custava as famílias fazerem as pazes e deixarem o casal namorar? Então o ódio venceu?”. Ela ponderou. “Mas foi esse toque de tragédia que fez a obra ficar famosa”. “Eu sei. A maior obra literária de todos os tempos... é um tragédia.”. Ela riu e aconselhou. “Cuidado com esse mundo que você visualiza dentro de você. Pode se decepcionar”. “Fique tranquila. Eu manipulo esse mundo melhor do que fiz com as marionetes”. Finalizou. “Não vou discutir com meu geniozinho. Importa é que ficou muito bom”.
No ano seguinte, eu iria para o turno da noite. No fim do ano, saindo no portão, ela me chamou. “Vai embora assim, sem dar um abraço?”. “Desculpe. Não gosto de despedidas.”. Segurando meu rosto, fixando nos meus olhos, falou. “Não tive a felicidade de ter um filho rapaz. Tenho três moças que amo. Mas se tivesse um filho rapaz e eu pudesse escolher, ele seria você. Pode ter certeza que você é sim, o mais lindo da escola”. Abaixei a cabeça, tímido. Com muito custo consegui falar. “Mas a senhora também é pessoa boa”. “Sou nada, sou uma velha chata. Ser bom não é para qualquer um. Seja sempre esse rapaz reto, conciliador, culto, interessado pelas pessoas que você vai ser muito feliz. Levantou meu queixo pedindo. “Dá um sorriso pra mim”. Tentei... mas não consegui. Abraçamo-nos demoradamente. Sua última frase antesde eu ir foi. “Você não precisa aprender a desenhar. Você já é uma pintura. Deus te abençoe sempre”.
Clique aqui visite o blog do poeta e escritor Carlos .

Carlos, Menino Beija-Flor,

Gosto de falar para os meus alunos também tudo que eles têm de bom e belo. No final do ano escrevo até cartinhas. Este é o papel mais importante não só dos professores Carlos, mas da família, dos amigos ... É humano e grande reconhecer o outro. Veja como foi importante para você as palavras da Zelina. Só podemos saber o quanto somos bons e o que temos de bonito se alguém falar para a gente. Palavras negadas ou até não ditas é como que roubar o que o outro tem de bom.
Para retribuir sua atenção e carinho, postei uma foto de quando eu era professora de literatura e trabalhava muito com teatro. Na foto, meus alunos encenavam a história do livro que lemos na época, "Corrida pela Herança" de Sidney Sheldon.
Obrigada pela homenagem e pela amizade,
Professora Carla fernanda

15 comentários:

Wanderley Elian Lima disse...

Olá Carla
O Carlos é um grande poeta e um grande ser humano.
Tenha uma linda quarta feira.
Bjux

EU VENCI O CÂNCER! disse...

Anjos

Anjos são todos os que na Terra se tornam guardiões dos seus amores. São mães, pais, filhos, irmãos que renunciam a si próprios, a suas vidas em benefício dos que amam. As mães, sobretudo, prosseguem a se doar e velar por seus filhos, mesmo além da fronteira da morte, transformando-se em espíritos protetores daqueles que na terra ficaram, como pedaços de seu próprio coração.
bjos e tenha uma linda quarta feira

Everson Russo disse...

Belissimo texto com um emocionante final...grande beijo de bom dia pra ti querida.

Guará Matos disse...

Lúdico e emocional. Histórias da infância são sempre especiais de se ler.

Mais um gol marcado por você ao publicar esse texto.

Bjs.
____________
Querida "fessora" sobre a observação feita la no JAF eu mostrei as duas partes. Primeiro ela, depois e ele e o finalmente a junção.

Mais beijos.

Sergio disse...

Hola,

gracias por regalarnos tan emocionante texto.

Te dejo saludos argentinos,

Sergio.

Leonel disse...

Legal essa recordação!
Mudar Shakespeare foi demais!
Abraços!

(CARLOS - MENINO BEIJA - FLOR) disse...

Ai,ai. Emoção pura. Assim eu choro.Mas chorar por esses motivos é bom.Por isso eu digo que amo o blog.Agradeço as pessoas pelas palavras e especialmente à Professora Carla Fernanda, não só por postar um texto meu nesse blog tão bacana, mas por me proporcionar essas doces lembranças. Estou sem palavras e o teclado está molhado. Muito Obrigado!!!
Em tempo: Que legal as fotos, era mais ou menos assim mesmo.

Entrevidas disse...

Passando para deixar meu abraço, e dizer que o texto é lindo. Beijos

Bruno Teixeira disse...

MUITO LEGAL PROF. TENHA UMA ÓTIMA SEMANA.
REALMENTE SOMOS OBRAS PRIMAS, CRIAÇÕES PERFEITAS CRIADAS POR DEUS....

Abrçs.
Bruno JP Teixeira - O Portuga
http://brunojpteixeira.blogspot.com/

Anônimo disse...

SIEMPRE ES UN GUSTO VISITAR SU CASITA.
BESOS

Mauro S disse...

Oi Carla, como vai a amiga?
E que lindo post este aqui.
Beijos, saudades de aparecer mais seguido... Mauro

Carla Fernanda disse...

Todos temos muitas histórias para contar dos nossos professores e as maiores e melhores lembranças não são do que aprendemos com eles, mas de como eles eram como pessoas, como seres humanos e o quanto que tinham de DEUS em seus corações e em suas atitudes.

Mauro S disse...

Estamos sim no caminho certo, Carla, e ainda não sarei da LER, nem sei se tem cura, mas diminuo o uso um pouco sem deixar de usar a internet, só não posso exagerar, beijos.

Everson Russo disse...

Uma linda quinta feira pra ti minha querida amiga,,,poesia,,,carinho e paz sempre...beijos e beijos.

Vivian disse...

Bom dia,Carla!!

Lindo texto do Carlos!!Ele é ótimo!!E com muita sensibilidade!!E ser professora é muito importante, muda a vida do aluno!!Tive professoras maravilhosas que fizeram a diferença para mim!!E tenho uma que foi minha madrinha de casamento!!
Beijos pra ti!!
E parabéns PROFESSORA!!!